Porque é que os homens têm de esperar pelo “round 2”?
por Champalimaud Centre for the Unknown
Se você digitar em um motor de busca – “por que os homens têm que esperar antes de ter sexo novamente?”-os resultados incluirão muitas referências para prolongar. Pensa-se que este hormônio está envolvido em centenas de processos fisiológicos no corpo. Entre eles está o período refractário pós-ejaculatório masculino. Este período começa quando um homem ejacula e termina quando ele recupera sua capacidade sexual.
Se você pesquisar um pouco mais, você verá que esta teoria levou até mesmo ao desenvolvimento dos chamados “tratamentos”. Estes prometem encurtar a duração do período refratário de uma pessoa, reduzindo os níveis de prolactina do seu corpo.
Bem, como má notícia para quem comprou tal mercadoria, um novo estudo em ratos feito por cientistas do Centro Champalimaud para os Desconhecidos em Portugal revela que o prolactina pode afinal não ser o culpado. Estes resultados foram publicados a 4 de Janeiro na revista Biologia das Comunicações.
Ironically, o projecto de investigação que acabou por refutar a teoria nunca teve como objectivo fazê-lo.
“Quando começámos a trabalhar neste projecto, partimos realmente para explorar a teoria”, diz Susana Lima, a investigadora principal. “Nosso objetivo era investigar com mais detalhes os mecanismos biológicos pelos quais a prolactina poderia gerar o período refratário”.
Qual é a base da teoria? De acordo com Lima, ela surgiu através de várias linhas de evidência. Para um, alguns estudos têm mostrado que a prolactina é liberada por volta do momento da ejaculação em humanos e ratos. E como o período refratário começa logo após a ejaculação, o prolactina parecia ser um bom candidato. Além disso, níveis de prolactina crónica anormalmente elevados estão associados com diminuição do impulso sexual, anorgasmos e disfunção ejaculatória. Finalmente, o tratamento com drogas que inibem a liberação de prolactina em situações de disfunção sexual reversa cronicamente elevada.
“Todos estes resultados apontam para um papel central da prolactina na supressão do comportamento sexual masculino”, diz Lima. “No entanto, uma ligação direta entre a prolactina e o período refratário pós-ejaculatório masculino nunca foi demonstrada diretamente. Ainda assim, essa teoria se tornou tão difundida que agora aparece tanto nos livros como na imprensa popular”
Como a equipe acabou descobrindo que a teoria estava errada? Para estudar o papel da prolactina no período refratário masculino, Lima e sua equipe realizaram uma série de experimentos com ratos. “Escolhemos ratos como nosso animal modelo porque a sequência de comportamento sexual em ratos é muito semelhante à dos humanos”, explica Susana Valente, a primeira autora do estudo. “Também, com ratos, podemos testar diferentes linhagens que apresentam um desempenho sexual diferente, o que torna os dados mais ricos”. Neste caso, usamos duas cepas diferentes – uma que tem um período refratário curto, e outra que tem um longo, que dura vários dias”
A equipe começou verificando se os níveis de prolactina também aumentam durante a atividade sexual em ratos machos. “Medimos os níveis durante as diferentes fases do comportamento sexual usando amostras de sangue. E com certeza eles aumentaram significativamente durante a interação sexual”, diz Valente.
Após este aspecto ter sido confirmado, os pesquisadores avançaram para investigar a relação entre prolactina e a duração do período refratário dos animais. “Nossa primeira manipulação foi aumentar artificialmente os níveis de prolactina antes que os animais se excitassem sexualmente. Nós nos certificamos especificamente de que os níveis artificiais correspondiam aos que medimos durante o comportamento sexual natural. Se a prolactina foi realmente a causa do período refratário, a atividade sexual dos animais deveria ter diminuído”, explica Valente.
Para sua surpresa, esta manipulação não teve nenhum efeito sobre o comportamento sexual dos ratos. “Apesar da elevação dos níveis de prolactina, ambas as linhagens de ratos envolvidos no comportamento sexual normalmente”, ela lembra.
Próximo, os pesquisadores testaram se o bloqueio da prolactina teria o efeito oposto no período refratário – em outras palavras, se animais sem prolactina seriam mais ativos sexualmente. Novamente, a resposta foi não.
“Se a prolactina fosse realmente necessária para o período refractário, os machos sem prolactina deveriam ter recuperado a actividade sexual após a ejaculação mais rapidamente do que os controlos”, salienta Valente. “Mas eles não o fizeram.”
Entre os resultados de Valente e Lima fornecem uma forte contraprova à teoria que afirma que a prolactina desencadeia o período refratário masculino. Ainda assim, o prolactina é, sem dúvida, uma parte do comportamento sexual masculino. Qual poderia ser seu papel?
“Há muitas possibilidades”, diz Lima. “Por exemplo, existem estudos que apontam para um papel para o prolactina no estabelecimento do comportamento parental. Além disso, é importante notar que as dinâmicas de prolactina são bastante diferentes nos ratos e nos homens”. Em ratos, os níveis de prolactina aumentam durante o acasalamento. No entanto, nos homens, a prolactina parece ser libertada apenas na altura da ejaculação, e apenas quando a ejaculação é alcançada. Portanto, pode haver algumas diferenças no seu papel entre as espécies”
Então qual é a razão pela qual os machos têm de esperar antes do segundo round? “Nossos resultados indicam que é muito improvável que a prolactina seja a causa”, diz Lima. “Agora podemos seguir em frente e tentar descobrir o que realmente está a acontecer”, conclui ela.
Mais informações: Não há provas do envolvimento da prolactina no período pós-ejaculatório refractário. Susana Valente, Tiago Marques, Susana Q. Lima. Communications Biology. DOI: 10.1038/s42003-020-01570-4.
Informações sobre a revista: Biologia das Comunicações
Fornecido pelo Champalimaud Centre for the Unknown